terça-feira, 8 de abril de 2008

Discofonia (5/6/7 Abril)

Tom Brosseau-Committed to Memory

Luís Lopes-
Humanization 4Tet

"Quando comecei a ouvir Jimi Hendrix fiquei logo... Eu sempre me apaixonei por estes artistas agrestes, que valorizam a ideia em si e não a técnica para o atingir. É óbvio que é preciso sempre muita técnica para tocar como eles, mas eu digo isto, de valorizar a ideia em si, porque eles valorizam a sua forma de tocar e têm uma forma de tocar completamente diferente do que normalmente se ensina nas escolas, por exemplo. Essa forma de tocar é única e é deles. O Jimi Hendrix tem isso, não é uma pessoa académica que aprendeu a tocar- alguém lhe ensinou a tocar daquela maneira e ele foi aprendendo, e tem uma forma agreste, crua, de tocar. Falha... há a questão do erro, também, não é? Que está incluída na maneira de ele tocar e é assumido e é reciclado para fazer a música- e a ideia em si é que conta."

"Isto é como a pintura, não é? Há uns que gostam de pintar a coisa real, fazer uma cara de uma pessoa, fazer uma imagem de uma pessoa, certa, há outros que se calhar chegavam lá, faziam aquela cara, daquela pessoa, exactamente igual como o outro fez e depois passavam-lhe a mão por cima e aquilo ficava tudo desbaratinado... desfocado. Eu não consigo separar, ainda não consegui separar a música da pintura e de outras artes. Acho que é exactamente a mesma coisa. Eu pensar, em termos estéticos, em relação a uma música como o jazz, eu vou logo buscar a pintura e tentar equivaler... O que é que equivale a um músico como o Charles Gayle? Qual é a pintura que equivale a isso? (...) Ou o que é que corresponde, em termos de pintura, a um músico como o Jim Hall, por exemplo? O que é que corresponde, não é?"

"Há quem diga que na livre improvisação vale tudo menos tirar olhos. Eu digo: vale tudo, inclusive tirar olhos! Quer dizer, o que é a improvisação? Improvisação é uma palavra muito abrangente. Um guitarrista como o Jim Hall, por exemplo, ele também é um improvisador. E podemos falar do Wes Montgomery e esse pessoal todo, da clean guitar, se me é permitida a expressão. Eles são improvisadores, eles improvisam! O improviso já vem desde... aliás, é inerente à palavra jazz, não é? Eu posso é, quando estou a improvisar, posso aproximar-me da raiz do acorde, ou da melodia da música, e estar dentro da melodia, ou posso afastar-me até ao infinito, inclusive ruídos, ou não tocar, ou tocar só aquelas notas (...). É uma questão de gosto."

"Eu tenho boa memória e vou sempre reciclando tudo aquilo que fui aprendendo mas, se calhar é a chave da questão, quando estou a tocar, eu gosto de arriscar e ir para qualquer sítio onde eu nunca estive. A tocar. Gosto mesmo! Eu gosto de arriscar quando estou a improvisar, e eu sei que naquele momento eu estou a ir para um sítio onde ainda não estive. (A fazer algo) que eu não me lembro de ter feito antes. Estou mesmo a arriscar na hora. (...) É claro que depois aquilo mistura-se um bocadinho, porque eu sei que, de repente, quero arriscar e vou para um sítio que eu não conheço ainda, e de repente começam a aparecer-me outras ideias. Que eu já me lembro. (...) Eu falo por mim. Para mim tem sido assim. E é claro que vêm-me sempre as ideias todas, e vêm mesmo, estou a ser sincero. Vêm-me as ideias de tudo, não é só da música. Vêm-me as ideias das minhas vivências daquele dia e dos outros dias, as vivências todas que a gente vai fazendo... é impressionante, mas é verdade."

Bobby McFerrin-I'm Alone

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