segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Discofonia (27/28 Outubro)

Vicente Palma-Para Rosalía
Beirut-
Nantes

Matthew Shipp-
Piano Vortex

"Não sei se procura será a palavra certa, porque a procura tem uma qualidade activa... Também há uma qualidade passiva. Creio que podemos chamar-lhe procura mas acho que também lhe podemos chamar ser... e deixar ser o que as coisas são. Por isso, sim, quer dizer, existe uma procura, uma qualidade activa, mas também existe uma qualidade passiva, e acho que no centro de tudo isso existe apenas mistério... Não sei se há procura ou não, se é activa ou passiva, não sei nada sobre essas coisas, eu sou apenas um experimentador sem fim, como todos nós."

"Acho que o Dickey tem um estilo muito original, ninguém soa como ele na bateria, e tem algo que ver com o que ele faz que realmente tem uma ligação com o que faço, não sei como o posso definir exactamente... E ele nunca me obriga a tocar padrões, é isso que quero dizer. Podemos ter um baterista muito bom, mas se ele for muito insistente num determinado sentido pode forçar o pianista a tocar num determinado tipo de padrões, e o Dickey nunca me obriga a tocar padrões (...) e o Joe Morris percebe mesmo o que mexe comigo, o que me motiva, o meu fraseado. E apoia-me de uma forma muito boa, não me empurra demasiado... Eu não preciso que ninguém me empurre porque quero ter a liberdade de levar a música para onde me apetecer, e ele sabe dar o apoio e a liberdade."

Caroline Henderson-
Jazz ain't Nothing but Soul
Caroline Henderson-
So Fine
Baaba Mal, Taj Mahal, Kaounding Cissoko, Antibalas Afrobeat Orchestra-
Trouble Sleep

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Discofonia (20/21 Outubro)

Herbie Hancock & Leonard Cohen-The Jungle Line

Norberto Lobo-
Mudar de Bina

"Lisboa, 2007, acho que é o lugar da minha música... mas também há outras cidades, e o mundo inteiro, espero. Não sei, eu ouço coisas de todo o lado e às tantas sem fazer grande distinção... E uma coisa que me fascina é o comum que as linguagens musicais díspares têm. Isso é uma coisa que sempre me interessou muito... a música do Mali e os blues, etc, etc, etc. Eu acho que essas pontes existem, obviamente, em todo o lado. É como as linguagens que se infectam, e portanto acho interessante dizeres que soa indiano e soa africano, porque isso é tudo música que eu ouvi muito, e de que gosto muito e que, de certa forma, foi parar à guitarra. (...) Eu não sei se as procuro ou se elas me acham a mim, mas sim, ouço muita música e tenho os ouvidos atentos a isso... sim, tenho. E gosto muito de música, daquela música pouco, de certa forma, intelectualizada. Eu não gosto de dizer world music porque isso é tudo world music, não é? Hoje em dia acho que é impossível fazer uma coisa assim, não sei se é impossível, mas acho que é difícil achar uma coisa pura no sentido, não sei que sentido, não sei sequer se existe um sentido, mas pronto, gosto dessa música e acho que isso, essa expressão crua talvez seja um bocado mais comum em toda a música que se faz no mundo."
"(A música do Carlos Paredes) é aquela música que está completamente impressa no nosso código genético, pelo menos no meu. (...) Cada vez que aprendia uma coisa nova gostava ainda mais de Carlos Paredes, e essa ascenção não mostra sinais de enfraquecer e continua muito sólida, que é uma coisa que acontece com poucos outros artistas. (...) Ouço muitas coisas no Carlos Paredes... ouço tudo, ouço essa paleta de emoções toda, está lá tudo, acho eu. Às vezes no espaço de uma canção... que é impressionante."

The Sea and Cake-
Exact like Me
Sean Riley & The Slowriders-
New Year's Eve
JazzMob-
Segments of Bird

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Discofonia (13/14 Outubro)

Norberto Lobo-Mudar de Bina
Zeep-
Have You Ever

Júlio Resende 4teto-
Da Alma

"Filhos da Revolução é o tema mais português que tenho e é uma homenagem à liberdade, que é o único pilar sobre o qual o jazz assenta."
"Em relação à apreciação positiva que os músicos de jazz têm sobre os seus camaradas, o Monk é muito importante, as suas composições, a sua estética, a sua estética vincada, a sua ideia musical, é bastante relevante e significativa no jazz mas pianistas, quer dizer, o Mário Laginha, o Sassetti, o João Paulo Esteves da Silva, são músicos, pianistas portugueses que nós temos, mundiais, extraordinários, os quais eu amo, e depois temos, já que estamos a falar de pianistas, o Keith Jarrett, o Bill Evans, o Brad Meldhau... são extremamente importantes. A música, a minha música, a arte, vem da vida e eles são a vida que eu descubro, quer dizer, eles fazem parte do meu universo, da minha realidade, com a qual eu contacto, e através dela eu me inspiro para criar."
"Há uma relação com o meu amo, obviamente, a vida e a música... é a música, é aquilo ao qual eu sinto a necessidade de servir."

Sean Riley & The Slowriders-
Let them Good Times Roll


segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Discofonia (6/7 Outubro)

Siouxsie Sioux-Drone Zone

Carlos Barretto-
Radio Song/ In Loko

"Em Espanha eles dão muita importância à música nacional, deles. Quando se fala de jazz em Espanha, eu não sei porquê, eles são muito ligados a esta tradição, se bem que já existem músicos e experiências mais marginais, digamos assim, de propostas de música mais criativa. Por exemplo, a partir do flamenco há imensos músicos que fazem um flamenco-jazz improvisado e quanto a mim seria uma coisa que funcionaria muito melhor, inclusivamente para eles exportarem. (...) Nós estamos num espaço europeu e acho que devia haver mais intercâmbio no espaço europeu, no sentido de divulgarem mais os seus jazzes nacionais, digamos, que cada um tem para oferecer, do que propriamente andar a papaguear o jazz americano (...)."
"Quando eu falei no Picasso foi porque houve uma frase dele que me marcou... o Picasso dizia que quando ele trabalhava, como sabe o Picasso foi um revolucionário, não é, revolucionou um pouco os caminhos da história da arte contemporânea, e ele dizia que a arte devia ser acessível ao mais comum dos mortais, a qualquer pessoa que seja inclusivamente ignorante, ou que seja leiga, e então ele diz que punha nos quadros dele sempre alguns aspectos formais, algo que fizesse com que as pessoas percebessem, 'olha, aqui está uma cara, um nariz' e tal, e era isso que que segurava a obra em si porque, claro, com a sua criatividade, ele dava cabo daquilo tudo... mas sempre tinha lá aquela referência que fazia com que as pessoas se sentissem minimamente identificadas, não é... e depois o resto é uma questão de viajar, se se consegue perceber, atingir ou não atingir, isso já não é um problema dele... e eu pensei um pouco nisso e, de facto, o Miles também diz a mesma coisa, aliás eu ainda tenho na minha mesa de cabeceira os livros com as autobiografias deles, que eu andei a ler, enfim... mas achei curioso ambos falarem nisso, não é, e pensei 'pá, é isto mesmo', e então tentei criar uma música, com estes músicos fabulosos, e a telepatia que já existe entre nós, (...), uma música que não fosse preciso estar a escrever muito ou a ensaiar muito; pronto, partir duma ideia global e fazer as coisas in loco, lá está."

Matthew Shipp Trio-
Godspelized


segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Discofonia (29/30 Setembro)

Benjamin Biolay-Douloureux Dedans

João Lencastre Communion-
One!

"O que ouço, o que sinto é o que vou tocar, sem pensar 'tenho que tocar assim porque é assim'. Ou seja, mesmo o Byrdlike, que é só um blues, mas às tantas está tudo quebrado e tudo aberto, e se está tudo assim a esticar, então surge naturalmente. É o que estou a ouvir, o que estou a sentir. Se estivesse tudo a tocar muito straight e tradicional, (isso) ia-me fazer tocar mais straight e tradicional... pronto, reajo ao que sinto na altura. No New World, nós estávamos na parte free, e depois da parte free ficámos no groove que poderia ser o New World, e mal o Bill deu um acorde, que é onde começa a harmonia do tema, toda a banda percebeu que era para ir para aí e no segundo a seguir estava lá. (...) Eu gosto muito da Bjork, e especialmente desse tema, e então a versão original, que está no Dancer in the Dark... e resolvi tocá-lo. (...) É tão simples, mas tão bonito, tão profundo. Não precisa de ser uma composição de jazz ultra-complexa, com harmonias muito complicadas e compassos a mudar a toda a hora e modulações rítmicas, não precisa de ser um tema assim para ser um bom tema. É um tema simples, como os Radiohead têm, como os Beatles têm, a Bjork, o Tom Waits... todos."

Robert Wyatt-Stay Tuned
The Bad Plus-Life on Mars