terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Discofonia (26/27/28 Janeiro)

The Magnetic Fields-Please Stop Dancing

Mikado Lab-
Baligo (Marco Franco)

"Mas eu sabia que a Escola de Jazz do Hot Clube, naquela altura era, e ainda hoje é, para muitos alunos que a frequentam, o único sítio assim mais imediato, de um músico chegar e dizer: ok, quero estudar bateria... e música, não só bateria mas o solfejo, aquelas coisas todas... E então fiz uma audição e entrei na escola. Mas curiosamente estive três semanas lá, só, porque as aulas eram de manhã e eu, na altura, não vivia em Lisboa e adormecia muitas vezes no clube e esquecia-me de subir ao 1º andar para ir às aulas. (...) Depois tive a sorte de fazer um workshop com o Acácio Salero, que é um baterista do Porto, e com ele é que eu imediatamente percebi tudo... tudo o que ele transmitia, eu percebia. E muito rapidamente fiquei a tocar bateria, isto é, a perceber como é que se aprendia a tocar bateria na linguagem jazzística, que obedece a uma série de práticas e técnicas que não são tão simples quanto tocar rock porque o rock é uma coisa mais fácil de tocar, e vê-se... se virmos um baterista a tocar rock num vídeo, a leitura é mais fácil porque as pancadas percebem-se todas... e o jazz é uma abordagem mais intrínseca do instrumento e do músico."

"A música, seja ela qual for, independentemente da época e do estilo, toda a música tem que ter uma série de coordenadas que são... necessárias à música. Porque a música transmite emoções... Os músicos são pessoas muito atarefadas em termos de sentimentos e emoções... quem toca música sabe o que é que quero falar aqui, que é: a música não é triste nem é alegre, a música pode ser tudo... é um drama pegado."

"Eu nunca encontrei ninguém tão parecido comigo a tocar. Não é a interpretar o instrumento, até porque ele toca guitarra, mas nós temos uma coisa muito próxima um do outro, que é a divisão do segundo... num segundo pode acontecer muita coisa. E isto é uma coisa abstracta mas a música que nós praticamos é sobretudo muito assimétrica, no decorrer dos temas, que são tocados em tempo real, é toda muito rápida... geralmente, quando as pancadas se encontram em uníssono, é tudo no intervalo de um segundo. Por isso é que eu dizia, um segundo é muito tempo neste tipo de música que eu e o Nuno (Rebelo) fazemos. Ele e eu partilhamos a mesma noção de tempo e por isso é que eu adoro tocar com ele. E nós fazemos uma dupla imbatível! Mesmo!"

Cat Power-
Blue

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Discofonia (19/20 Janeiro)

David Murray Black Saint 4tet feat. Cassandra Wilson-Sacred Ground

Rabih Abou-Khalil-
Journey to the Centre of an Egg

"Eu acredito que há sempre portas entre músicas e entre culturas... Há sempre uma possibilidade de passar de umas para outras, é só uma questão de encontrar as portas. Porque na verdade está tudo ligado, não há nenhuma cultura que esteja totalmente isolada. Às vezes basta encontrar a porta certa no momento certo... Para mim foi muito engraçado, funcionou bem com a minha música. Na altura não pensei e, na verdade, nem costumo pensar, quando trabalho com músicos de culturas diferentes, nas suas tradições. Os músicos trazem-nas automaticamente consigo e eu gosto sempre muito de trabalhar com músicos que têm um grande conhecimento das suas tradições, porque conseguem transcender essas mesmas tradições de forma mais fácil. Portanto, para mim, o português resultou muito bem, por estranho que possa parecer, com os conceitos rítmicos da minha música... ritmos que mudam e tempos invulgares... Porque a minha música não é bem jazz e também não é música árabe, é muitas coisas ao mesmo tempo, e acho que tenho tido a sorte, até agora, de encontrar sempre as tais portas entre as culturas... Por isso, para mim, foi um grande prazer. Foi um trabalho grande, claro, antes mesmo de compreender o português, aprendi a cantá-lo! E aprendi o ritmo da língua, que é uma coisa importante, quando se trabalha com música e com uma língua diferente, por isso para mim foi como uma pintura abstracta. Foi muito interessante, uma experiência verdadeiramente nova, trabalhar desta forma com uma língua."

"Nunca pensei 'quero integrar esta música ou aquela'... O que aconteceu é que encontrei personalidades musicais que me interessaram. Foi sempre mais isso que aconteceu do que a influência da cultura. Por exemplo, o disco que gravei com o Ricardo Ribeiro, não é que eu tenha casado a música árabe com a música portuguesa. Eu toquei a minha música com a música do Ricardo. Se tivesse tocado com outro fadista, não teria resultado. Funcionou com esta pessoa. Com outra pessoa teria sido completamente diferente. Esse foi sempre o meu pensamento, houve sempre músicos que me interessaram, gosto da forma como se exprimem. Não penso nos estilos que tocam, não penso, por exemplo, 'quero alguém que toque música arménia comigo, ou um pianista que toque jazz comigo'... Nunca foi uma decisão consciente, nesse sentido."

"Seria um artista pobre se o sítio onde vivo não afectasse, de alguma forma, o meu pensamento. Creio que é sempre importante saber o que aprender das pessoas. Se formos para a Alemanha para aprender a cozinhar com eles... isso não é bom! Há certas coisas que não são boas para se aprender com os alemães... Se quisermos ser bons anfitriões, não é o sítio ideal para se estar, mas se quisermos aprender a ser exactos, os alemães são muito claros nas suas noções das coisas. Se alguma coisa for má, eles dizem-nos. Não se preocupam com a boa educação. Não é muito bom nas amizades mas é bom para o trabalho. E dá-nos um outro sentido para a noção de qualidade. Creio que isso é muito importante. É uma coisa boa para se aprender na Alemanha. E depois é um país com uma grande história na arte porque há sempre alguém que traz a sua sensibilidade e mistura-a com um grande desejo de perfeição, e o resultado é um produto de alta qualidade. Eu acho que tenho tido uma posição privilegiada desde que deixei o meu país, há muito tempo, por conseguir contactar com culturas e sociedades diferentes, e viver nelas, e não à margem... e poder aprender o que escolho para mim próprio."

His Name is Alive-
Geechee Recollections II

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Discofonia (12/13 Janeiro)

Mikado Lab-Speed

Clean Feed-"Record Labels of the Year 2007" (All About Jazz)

"Eles são o queijo Limiano e nós somos o queijo artesanal, de Nisa ou de Serpa, não é?, é uma coisa diferente, são todos queijos, mas nós é quase um produto artesanal, nós estamos interessados mesmo na música, é uma coisa um bocadinho diferente dos princípios que regem uma editora como a Blue Note e como a Verve. (...) A principal coisa que distingue a Clean Feed dessas editoras será o seu interesse maior ser a música propriamente dita, e ser a construção de um catálogo, e não lançar produtos que têm que vender muito. Portanto, o catálogo tem que fazer sentido como um catálogo e não só as peças independentes; nós, ao criarmos um catálogo como este, estamos a criar uma coisa una."

"Claro que a improvisação é o fio condutor da linha editorial da Clean Feed. Eu acho que o jazz é a improvisação, não é? Existem muitas discussões sobre o que é o jazz, é difícil dizer o que é e o que não é, mas eu acho que a única coisa que existe no jazz desde o princípio é a improvisação, não é o swing e, neste caso, o que nós procuramos são projectos originais, principamente artistas com voz própria, com identidade- é talvez a coisa mais importante dos nossos discos."

"Uma coisa que eu acho curiosa é que a Blue Note e a Verve, que são editoras que hoje vivem do passado, vivem muito das reedições. Por exemplo, a Sony praticamente não edita jazz, vive das reedições dos clássicos do Duke Ellington, do Charlie Mingus... É engraçado é que essas editoras não estão a fazer clássicos; daqui por 20 ou 30 anos vão continuar a vender apenas esses, os Duke Ellingtons, os Mingus e os Coltranes, mas não vão vender discos de agora, não é? Não estão a ser espertas de estar a fazer os clássicos de amanhã. Daqui por 30 anos ou 40 anos, os discos, os grupos, os projectos de hoje são os que as editoras independentes, nomeadamente essas 5 que foram votadas as editoras do ano, estão a fazer agora, não é?" (Pedro Costa)

Selecção de Pedro Costa e Ilídio Nunes (Clean Feed):
Dennis González N.Y. Quartet-
The Matter at Hand
João Paulo-Durme
Bernardo Sassetti Trio-Musica Callada, Mov.1
4 Corners-Lucia

Rabih Abou-Khalil-Die Brücke

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Discofonia (6/7 Janeiro)

Patrick Watson-Day Dreamer

André Fernandes 4teto-
Cubo

"É uma coisa que me interessa... mesmo quando criamos espaços para a improvisação, eu acho que é importante, se existe mais do que um improvisador no mesmo tema, é importante que o compositor também pense nesses espaços como uma parte importante, como uma cor específica do tema. Na maior parte destes temas, e mesmo em temas meus anteriores, é raro haver dois improvisadores a tocar sobre a mesma estrutura; acontece, como é evidente, mas na maior parte dos temas isso acho que não acontece... e também raramente há solos sobre a estrutura onde foi tocada a melodia do tema, ou seja, cada secção, inclusivamente as secções de solo, são escritas também, ou são planeadas, de forma a criar momentos diferentes, e a acomodar também o som dos intrumentos diferentes que improvisam. Foi isso que aconteceu no Sal, embora o Sal seja específico, porque existe uma estrutura de solo escrita, ou tocada, em banda, que é o meu solo, e no caso do Mário, eu deixei que fosse ele a fazer o que quisesse (...) e acho que essa é uma coisa, já agora, que é um excelente exemplo também de uma característica do Mário, que para mim é igualmente impressionante em relação às outras coisas que ele tem, que são mais visíveis, mas que é o sentido que ele tem de forma e a noção que ele tem de todos os contextos, ou seja, pode ser difícil para um músico ter um espaço vazio em que de repente és só tu, e fazes o que quiseres e pronto, e o que é verdade é que ele consegue criar um fio condutor que sai do tema que estava escrito e que regressa de uma forma super natural para o tema novo, ou seja, faz com que aquilo seja uma improvisação feita para aquele tema e não uma improvisação que podia calhar em qualquer outro."

"É estranho porque na prática é o mesmo instrumento mas acho que o contexto é tão diferente e o som é tão diferente, e aquilo que é importante, ou pelo menos aquilo a que nós temos que dar mais atenção acabam por ser coisas diferentes do que são num contexto jazzístico, e portanto a sensação geral é um bocadinho diferente. É óbvio que é uma coisa mais visceral, se calhar, e um bocadinho mais despreocupada... não num sentido negativo para o jazz, não no sentido de ser um sofrimento ou de ser mais difícil tocar jazz ou isso, não é tanto isso, mas é preciso estarmos atentos a uma série de coisas, é preciso um nível de concentração diferente do que é para tocar rock- o rock é uma coisa mais visceral."

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Discofonia (29/30/ 31 Dezembro)

Norberto Lobo-Cantiga da Ceifa

Nina Nastasia & Jim White-
Odd Said the Doe


Bill Frisell & Matt Chamberlain-The Future
Mavis Staples-
In The Mississippi River
Max Roach-
Freedom Day

Lee Ranaldo & Dana Colley-
Letter to John Clellon Holmes


Marty Ehrlich & Myra Melford-Hymn Pt.1
Young Marble Giants-
Searching for Mr. Right
The Bad Plus-
Giant

Jean Louis Murat-
Sépulture


Clã-Sexto Andar