segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Discofonia (24/25 Novembro)

Burnt Friedman-Chaos Breeds 2

Nelson Cascais-
Nine Stories

"Eu tenho o meu projecto, componho a minha música e gosto de ter os meus projectos, mas aquilo que gosto realmente mais de fazer é de ser exposto a músicas e a músicos diferentes, constantemente."
"Nós, em relação a alguns países europeus, temos uma coisa fantástica: se calhar por estarmos um bocadinho aqui isolados da Europa, da outra Europa, por vezes esforçamo-nos mais por procurar influências e por ir buscar inspiração a outras músicas e até outras artes. Não sei... é óbvio que se falarmos de cidades como Londres, Paris, Berlim ou até Amesterdão, é claro que aí acontecem coisas incríveis, de vanguarda, fantásticas, mas eu acho que nós aqui em Portugal fazemos, temos um jazz que é muito particular, que é um jazz muito... que não perdeu o contacto com o jazz tradicional, mais americano, que era o jazz que se fazia há 15 anos atrás, com algumas excepções, houve sempre músicos que estiveram um bocadinho mais voltados para outras tendências, como o Mário Laginha, o Tomás Pimentel... mas a grande tendência há uns anos atrás era o jazz americano e eu acho que o jazz que os músicos actuais e os músicos da minha geração fazem é um jazz que tem, sem dúvida, referências do jazz norte-americano mais tradicional mas depois vai beber a todas as outras músicas, ao rock, ao jazz nórdico, europeu, e a mistura que é feita resulta num som muito particular que eu, por exemplo, não encontro em Espanha, e eu toco bastante com músicos espanhóis, e isso não acontece em Espanha, e aqui acontece e eu acho que é bom."
"Há alguns compositores que fazem sem dúvida o jazz português. Eu oiço... eu acho que um ouvido um pouco mais atento, acho que qualquer pessoa com um ouvido mais atento consegue identificar, mesmo que muito remotamente, consegue identificar a alma portuguesa nas composições de alguns músicos portugueses. Cito os mesmos nomes, consigo ouvir isso na música do Mário Laginha, consigo ouvir isso imenso na música do Nuno Ferreira, do Tomás Pimentel, enfim, entre outros. Acho até que é inevitável que as nossas referências, a música que nós sempre ouvimos, desde crianças, só não saem nas nossas composições se nós oferecermos alguma resistência. E há quem o faça. Quem escrever música, ou tocar com o espírito aberto, acho que muito naturalmente (surgem essas sonoridades)."

Old Jerusalem-Boxes

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Discofonia (17/ 18 Novembro)

William Parker-The Makings of You

DJ Johnny-
CoolTrain Crew/Lux Jazz Sessions

"O techno é o género musical, neste universo de dance music, mais velho, com mais história de discotecas, de hits e indústria, e é natural que as pessoas, passados... se nós temos 10, o techno tem 20, houve 20 anos para assimilar uma coisa que teve grandes fenómenos comerciais. Mas isso também aconteceu porque as discotecas estavam mais próximas dos DJs. Hoje em dia o empresário da noite está muito distante do DJ, ele pensa em facturar. Há uma expressão, que vem da noite, que é espelho disso, que é: ' eh pá, o que é que está a dar?'. Isso significa que não há conhecimento. (...) Eu agora tenho uma expressão nova, que é: o drum' n bass é o enfant terrible da dance music em Portugal. Porque eu acho que é uma música realmente nova, para começar. E como diz o Pessoa, primeiro estranha-se, depois entranha-se."

"Bem, qualquer programador de jazz a nível mundial gostava de trazer aquele trio (William Parker, Matthew Shipp, Guillermo E. Brown). É importante dizer isto, sem medo nenhum. Quer dizer, tanto o baixista, o baterista ou o pianista, na sua arte, cada um deles está no top 5 com uma forma única de tocar. Se foi uma escolha hedonista... não o considero, não o considero. Acho que foi tentar oferecer às pessoas, oferecer por 12 euros, o melhor... A Jazz Session faz concertos, sejam nacionais ou internacionais, com outra norma: tem que ser bom aqui como em Tóquio. Não interessa o factor geográfico. Nós trazemos coisas que apontam pontos de viragem na música, e esse trio foi uma dessas coisas. Obviamente que me deu um orgulho do tamanho do mundo. Infelizmente, eu fico um bocado triste de os amantes do jazz não se aperceberem do que perderam. Ou de algum público dizer: eh pá, é a pagar, não vou. Eu pergunto aos experts e aos entendidos onde é que vão ver um concerto, escolham qualquer cidade do mundo, (onde) vejam um concerto daqueles por 12 euros. Eu pago o bilhete de avião, para essa mesma cidade, ida e volta!"

Yusef Lateef-
Love Theme From Spartacus
Fleetwood Mac-
Everywhere
Gil Scott-Heron-
Lady Day and John Coltrane
Slum Village-
05
CoolTrain Crew-
Dead Combo: Um Homem atravessa Lisboa na sua Querida Bicicleta
Gerry Hemingway 4tet-
Tom Skwella
Selecção de DJ Johnny

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Discofonia (10/11 Novembro)

Vinicio Capossela-Si è Spento Il Sole

Miguel Martins Kaleidoscópio-
The Newcomer

"Eu, quando comecei a interessar-me por jazz, tive a sorte do Zé Eduardo ter vindo de Barcelona para Faro, e em 95 aparecer um guru, que dispensa apresentações, e de eu começar a estudar com ele, só que não havia mais nada... Não há clubes na província, para tu ires fazer jams, não há uma quantidade de músicos, 20 ou 30, 40, já de bom nível, já bastante evoluídos, à tua beira para tu te juntares a eles! Não há uma escola de jazz... não havia nada! O que havia era um grande amor e uma grande loucura na tua cabeça, uma grande paixão daquela música, de passares horas e horas a ouvires discos de jazz, de passares horas e horas e horas a leres livros mesmo especificamente de música, dentro do jazz, não os romances do jazz mas sim livros de música, mesmo virados para a improvisação, e estudar muito... Eu fazia coisas, na altura, doidas, pá. (...) Não me arrependo. (...) Acho que isso influencia muito a tua música. Se tu queres mesmo (tocar), estás na província, pegas no comboio, autocarro, vais até ao Hot Clube, jam session, bumba, tens pr'aí 19 anos ou 20. Nessa altura não havia auto-estradas para Lisboa, passavas 5 horas, depois de 5 horas chegavas aqui, apanhavas um táxi, tinhas que comer qualquer coisa, e depois tocar a noite toda, alugar uma pensão ou dormir na casa de alguém... Quer dizer, isso são tudo histórias que te fazem tocar, isso é que te faz tocar. Se ficares à espera de comprar o livro xpto, que é a fórmula de conquistar o mundo, isso não vai acontecer."

Stéphan Oliva-
Vertigo-Suite (Vertigo, Alfred Hitchcock, 1958)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Discofonia (3/4 Novembro)

Joe Henry-I Will Write my Book

Sean Riley & The Slowriders-
Farewell

"Dylan, Nick Cave, Leonard Cohen, Neil Young e tantos outros, podia ficar aqui uma hora a dizer as coisas que me marcaram (...). Todo esse tipo de escrita de canções por parte desse tipo de intérpretes marcou-me imenso e a minha vida musical séria começou precisamente com o maior singer-songwriter português de sempre, com o José Afonso... Foi aí que eu despertei para a música, através dos discos que o meu pai ouvia comigo quando eu era ainda muito pequeno e foi aí que eu deixei de ouvir a música que me davam na rádio ou na televisão para passar a querer chegar a casa e eu pôr o meu disco, porque tinha necessidade de ouvir esta ou aquela música. E acho que desde aí, lá está, nesses tais superegos e alteregos e esses níveis todos da mente, não é?, deve-se ter instalado desde cedo um certo fascínio por essa coisa de pegar numa guitarra e contar uma história."
"Nunca me pautei por notas musicais... Acho que a forma como eu canto tem a ver como eu sinto aquilo que estou a dizer... Se calhar a minha voz vem muito mais do coração do que propriamente das cordas vocais, muito mais daquilo que eu sinto naquele momento do que propriamente de tentar colocar a voz desta ou daquela maneira, ou de tentar criar esta ou aquela harmonia."
"Acho que a vida é feita de despedidas, sinceramente. Das coisas boas e das coisas más mas, se nós pensarmos nisso, estamos constantemente a despedirmo-nos de alguma coisa, não é? (...) Da mesma forma que eu já abandonei pessoas e pessoas me abandonaram a mim, e mudei de cidades, e dou um aperto de mão a uma pessoa que eu penso que daí a um mês vou voltar a ver e nunca mais vi, ou conheço uma pessoa que vem de Itália e nunca mais vou ver... A vida é feita de transições e as transições implicam sempre uma despedida de alguma coisa, boa ou má. E acho que a minha vida foi muito marcada por despedidas, por esse tipo de despedidas, sempre para outra coisa, e é por isso que o disco se chama Farewell." (Afonso Rodrigues)

King Britt presents The Cosmic Lounge-Eddie Henderson: Scorpio Libra