quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Discofonia (9/10/11 Fevereiro)

The Magnetic Fields-Courtesans

Enrico Rava-
The Words and The Days

"Não sei porque é que acontece, mas ainda agora, nestes últimos anos, descobri o Stefano Bollani, o Gianluca Petrella e muitos outros, que entretanto se tornaram muito conhecidos... Na verdade começaram comigo quando eram completamente desconhecidos e jovens... Eu gosto muito de tocar com músicos novos, que querem ser bem sucedidos, especialmente se estiverem mais ou menos sintonizados com a música como eu a entendo... é muito divertido tocar com eles. Prefiro tocar com gente muito mais nova do que eu do que com músicos da minha idade. Os músicos da minha idade são como pedras, sabe? É impossível pedir-lhes para se abrirem a certas coisas, enquanto os mais novos gostam de explorar, de descobrir, são mais curiosos."

"Antes de mais, eu considero o Gianluca o melhor músico que a Itália produziu nos últimos 20 anos e um dos melhores de sempre, nascidos em Itália. Se ele tocasse clarinete ou qualquer outro instrumento, eu gostaria de tocar com ele de qualquer forma. E o mesmo é verdade do Roswell (Rudd), que é para mim um dos grandes mestres. (...) E, para além disso, eu adoro o trombone! Os meus músicos preferidos são quase sempre trompetistas, o Miles, o Chet, o Louis Armstrong, mas o prazer de tocar é maior com o trombone! Porque o trombone tem o mesmo registo da voz masculina; se eu falar e depois tocar trombone, o som é o mesmo, enquanto que o trompete é mais agudo... E embora eu fosse um amador como trombonista, era mais fácil para mim... com o trompete parece que estou sempre a lutar... Na verdade toco trompete porque gosto tanto de certos trompetistas que queria ser como eles... Mas gostava de tocar trombone. E acho que soa tão bem com o trompete, porque é o mesmo instrumento. Por exemplo, o flügelhorn não é o mesmo instrumento, o flügelhorn é um instrumento cónico, da família das tubas. Mas o trompete e o trombone pertencem à mesma família e, por isso, quando tocamos certos intervalos, por exemplo, se eu tocar uma nota, e o trombone tocar uma harmonia atrás de mim, às vezes produzimos notas extra. Tocamos só duas notas, a minha nota e a nota dele, mas se ouvirmos com atenção, conseguimos distinguir uma série de outras notas pelo meio... Surpreende-me que esta combinação de instrumentos tenha sido tão pouco usada! Excepto talvez o Bob Brookmeyer... mas não me lembro de muita gente, só eu é que juntei o trompete e o trombone como um grupo, sem qualquer outro sopro! Espanta-me que ninguém faça isso porque o som é fantástico e é tão divertido!"

"Para dizer a verdade, não costumo ouvir os meus discos antigos. Normalmente ouço muito um disco quando acabei de o gravar, e durante 2 ou 3 meses não paro de o ouvir, especialmente antes das misturas finais, para decidir pequenas coisas... Mas às vezes, quando ouço discos meus mais antigos, a única coisa que ouço são os erros... Sei que há ali um erro, num sítio qualquer, então espero que chegue o erro (risos)... Ou uma frase que acho que não toquei bem, ou de que não gosto... espero pelo momento do disco que sei que não é bom! É estranho mas nós gostaríamos de fazer o disco perfeito... Este disco, The Words and The Days, é um dos discos em que me sinto 90% feliz. Quando o ouço, penso, ok, é assim que eu gostava de... ser, de tocar, sempre! É este nível que eu gostaria de ter sempre! É um disco que me parece bem tocado, gosto dos temas, e é um disco que conta uma história. Mas também tenho alguns discos que nem sequer consigo olhar para eles! Tenho um, por exemplo, String Band, de que muitas pessoas gostaram, na altura, e eu nem posso olhar para ele! Só de olhar para a capa, sinto-me mal (risos)... Há tantas coisas nesse disco de que eu não gosto... alguns solos, coisas que o resto do grupo tocou que também não gosto... É muito difícil olharmo-nos ao espelho. Quando tocamos, é aquilo e mais nada. Abrimo-nos e pronto, somos nós. Mas nem sempre é uma visão agradável."

(9/10/11 Fevereiro)

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