quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Discofonia (2/3/4 Fevereiro)

Cat Power-Ramblin' (Wo)man

Vasco Agostinho-
Fresco

"(A tradição) dá-nos uma base sólida daquilo que pode ser feito, além de que é um treino. Eu gosto de pensar nisto como uma linguagem verbal. Se nós queremos escrever poesia, é muito importante que conheçamos aquilo que já foi escrito (...) e isto no caso da poesia parece-me mais óbvio do que na música. E na música é fundamental porque a construção da nossa linguagem pessoal é um pouco a mistura da nossa vivência musical e a nossa vivência tem a ver com a tradição, tudo o que já foi gravado e que nós gostámos e quisémos adquirir. (...) O que nós queremos não é necessariamente ser conhecedores da tradição- quer dizer, isso dá muito jeito se quisermos dar aulas de história, mas quando se trata de tocar, o que é que nós temos que conhecer? São os recursos musicais que podem ser usados, no nosso instrumento ou na música do grupo. No fundo é isso que é importante. E naturalmente, enquanto português, por exemplo, tive uma série de influências que não vêm exclusivamente do jazz- Carlos Paredes, por exemplo, eu diria que é uma grande influência em mim."

"Desde o fado ao pop, há toda uma série de coisas que vou ouvindo, no meu dia-a-dia, que me despertam a atenção e que eu vou querer aprender porque hoje em dia, também, a música caminha para aí, não é? E caminha para aí porque nós estamos cada vez mais abertos, os músicos são cada vez mais abertos. É uma consequência natural, se calhar, da própria história da música."

"No jazz, quando nos aparece uma partitura, ela não é se não, eu diria, sei lá, 5%, quando muito 10%, daquilo que os músicos vão tocar. E isto é uma característica do jazz... é muito difícil encontrar uma partitura de um standard numa versão em que o músico tenha tocado exactamente como está escrito, ou a harmonia seja exactamente aquela, não é? E, naturalmente, quando vamos tocar um clássico, vamos tocá-lo como o ouvimos- a expressão é esta, exactamente: vamos tocar aquele tema como o ouvimos, e não há duas pessoas que o ouçam da mesma maneira. Dentro de um grupo, os 4 elementos se calhar também ouvem de formas diferentes mas juntos, portanto, todas essas formas de ouvir o tema juntas têm este resultado. (...) Se eu toco um tema do Coltrane, se calhar posso alterar o tema todo mas se calhar faço essa alteração por respeito ao próprio Coltrane."

Vijay Iyer-
Inertia

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