terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Discofonia (19/20 Janeiro)

David Murray Black Saint 4tet feat. Cassandra Wilson-Sacred Ground

Rabih Abou-Khalil-
Journey to the Centre of an Egg

"Eu acredito que há sempre portas entre músicas e entre culturas... Há sempre uma possibilidade de passar de umas para outras, é só uma questão de encontrar as portas. Porque na verdade está tudo ligado, não há nenhuma cultura que esteja totalmente isolada. Às vezes basta encontrar a porta certa no momento certo... Para mim foi muito engraçado, funcionou bem com a minha música. Na altura não pensei e, na verdade, nem costumo pensar, quando trabalho com músicos de culturas diferentes, nas suas tradições. Os músicos trazem-nas automaticamente consigo e eu gosto sempre muito de trabalhar com músicos que têm um grande conhecimento das suas tradições, porque conseguem transcender essas mesmas tradições de forma mais fácil. Portanto, para mim, o português resultou muito bem, por estranho que possa parecer, com os conceitos rítmicos da minha música... ritmos que mudam e tempos invulgares... Porque a minha música não é bem jazz e também não é música árabe, é muitas coisas ao mesmo tempo, e acho que tenho tido a sorte, até agora, de encontrar sempre as tais portas entre as culturas... Por isso, para mim, foi um grande prazer. Foi um trabalho grande, claro, antes mesmo de compreender o português, aprendi a cantá-lo! E aprendi o ritmo da língua, que é uma coisa importante, quando se trabalha com música e com uma língua diferente, por isso para mim foi como uma pintura abstracta. Foi muito interessante, uma experiência verdadeiramente nova, trabalhar desta forma com uma língua."

"Nunca pensei 'quero integrar esta música ou aquela'... O que aconteceu é que encontrei personalidades musicais que me interessaram. Foi sempre mais isso que aconteceu do que a influência da cultura. Por exemplo, o disco que gravei com o Ricardo Ribeiro, não é que eu tenha casado a música árabe com a música portuguesa. Eu toquei a minha música com a música do Ricardo. Se tivesse tocado com outro fadista, não teria resultado. Funcionou com esta pessoa. Com outra pessoa teria sido completamente diferente. Esse foi sempre o meu pensamento, houve sempre músicos que me interessaram, gosto da forma como se exprimem. Não penso nos estilos que tocam, não penso, por exemplo, 'quero alguém que toque música arménia comigo, ou um pianista que toque jazz comigo'... Nunca foi uma decisão consciente, nesse sentido."

"Seria um artista pobre se o sítio onde vivo não afectasse, de alguma forma, o meu pensamento. Creio que é sempre importante saber o que aprender das pessoas. Se formos para a Alemanha para aprender a cozinhar com eles... isso não é bom! Há certas coisas que não são boas para se aprender com os alemães... Se quisermos ser bons anfitriões, não é o sítio ideal para se estar, mas se quisermos aprender a ser exactos, os alemães são muito claros nas suas noções das coisas. Se alguma coisa for má, eles dizem-nos. Não se preocupam com a boa educação. Não é muito bom nas amizades mas é bom para o trabalho. E dá-nos um outro sentido para a noção de qualidade. Creio que isso é muito importante. É uma coisa boa para se aprender na Alemanha. E depois é um país com uma grande história na arte porque há sempre alguém que traz a sua sensibilidade e mistura-a com um grande desejo de perfeição, e o resultado é um produto de alta qualidade. Eu acho que tenho tido uma posição privilegiada desde que deixei o meu país, há muito tempo, por conseguir contactar com culturas e sociedades diferentes, e viver nelas, e não à margem... e poder aprender o que escolho para mim próprio."

His Name is Alive-
Geechee Recollections II

Sem comentários: