quarta-feira, 7 de maio de 2008

Discofonia (3/4/5 Maio)

Ramiro Musotto-Gwyra Mi

Pedro Madaleno-
Dissidentes

"Estar mesmo em Nova Iorque é muito importante, porque aqui em Portugal, naquela altura (na década de 80), havia pouquíssimos concertos, não é como é agora, que eu já não sinto falta nenhuma de não estar em Nova Iorque. Neste momento há um concerto bom quase todas as semanas."
"Às vezes ia a jam sessions, podíamos fazer jam sessions com grandes músicos, porque alguns eram meus colegas- por exemplo, eu tocava no grupo do Brad Meldhau, juntamente com o Chris Potter, e tocava com pessoal muito fixe quando estava na New School... Estava no grupo deles mas depois, quando íamos para a jam session, era outra atitude. Sentia muito mais stress porque só apareciam cromos; uma vez por outra aparecia um Branford Marsalis e uma pessoa ficava ali em pânico, não é? Portanto era um bocado competitivo porque estava toda a gente a tentar dar nas vistas; os que eram menos conhecidos tentavam dar nas vistas, então era uma grande competição, claro. (...) Eu tinha um colega meu, que é o Peter Bernstein, guitarrista, e ele estava sempre a dizer: pá, vocês, europeus, estão cá... nós podemos estar aqui, ser preguiçosos, agora vocês estão sempre a estudar, sempre com aquele stress de ter que começar a tocar... (...) Eles também têm que estudar como nós, é a mesma coisa, mas crescem num ambiente diferente do nosso, com aquele tipo de música todos os dias... mas eles eram mais preguiçosos do que nós, isso é verdade."

"O problema dos músicos é que nós ouvimos a música não em função dos sentidos, de nos sentirmos bem ou... nós ouvimos muito a música com um carácter crítico... deixa-me analisar isto, isto é aquele acorde, isto são aquelas notas, está bem escrito, está mal escrito... Então às vezes esquecemo-nos que devemos ouvir a música por prazer. E os músicos têm esse problema, ouvem tanta música que chega uma altura em que já não estão a ouvir por prazer, estamos a ouvir o que é melhor, o que não é melhor, o que nos interessa para estudar ou para não usar, é um defeito que nós temos. (...) Para um músico é muito mau, por isso é que às vezes gosto de estar num bar e olha, pronto, esta música é tipo 30 metros de música, como costumo dizer, depois põem mais 20 metros de música, depois põem música com uma lombada azul, pronto, não tem nada a ver com música mas às vezes gosto de estar a ouvir só pelo prazer."

"Tento não me limitar a um estilo, quando estou a compôr... é uma necessidade. Mas tenho sempre a preocupação, quando estou a compor, de compor uma coisa que seja minimamente original, que não faça lembrar isto ou aquilo, porque isso é mau, não é? Se bem que isso é uma coisa que me irrita um bocado, às vezes as pessoas não percebem... hoje em dia as pessoas têm uma abordagem muito crítica quando vão aos concertos, estão sempre à espera de ouvir coisas originais e isso é uma exigência que se faz aos músicos que é um bocado injusta porque uma pessoa não pode ser original o tempo todo. Todos os músicos grandes que nós conhecemos vieram de alguém, têm um som que foi inspirado em alguém, e é mau uma pessoa estar sempre a pedir aos músicos que sejam originais porque isso é quase como dizer, olha, dá-me uma droga nova todos os dias porque já estou farto daquela..."

"Eu acho que este projecto dos Dissidentes sintetiza um bocado todos os outros projectos, porque é um projecto em que estou a tentar fazer música ao mesmo tempo bastante complexa e irreverente e maluca e com várias influências mas, ao mesmo tempo, muito simples. E muito mediática. Eu acho que isso é a coisa mais importante na música. Uma pessoa não pode estar a fazer música só para nós, não é? Isso é o problema de alguns músicos. Podemos estar em casa ou a compor, e depois vamos tocar nos concertos, ninguém gosta e nós estamos ali com uma trip intelectual, que a música é altamente... Uma pessoa não pode ter essa perspectiva. Então, quando toco, tento sempre fazer coisas que atinjam as pessoas, não é? Eu também já fui... nem sempre fui músico, não é? E antes de ser músico também gostava da música só pelo prazer... Portanto os Dissidentes sintetiza os meus projectos todos. Porque não me interessa passar o resto da vida a tocar em barzitos para 10 pessoas. Interessa-me tocar para o maior número de pessoas possível."

Sébastien Tellier-
Une Heure

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