quarta-feira, 26 de março de 2008

Discofonia (22/23/24 Março)


Zé Eduardo-Zé Eduardo Unit, A Jazzar...

"O Zé Eduardo, tudo aquilo que se propõe fazer, faz. O Zé Eduardo só não vai conseguir vencer a sua própria morte. E praticamente tudo aquilo que me propus fazer, fiz. Portanto, e eu disse, 'ok, tu não queres, mas eu vou arranjar maneira de fazer isto'. E fiz a Escola no Hot. E a Escola morreu. Ou seja, nasceu em 77 e morreu meses depois. Morreu porquê? Porque o Villas-Boas pegou na Escola e levou-a para o Louisiana, tal como tinha prometido. Aliás, eu respeito muito o Villas-Boas porque é um gajo quase tão louco como eu, tão obstinado como eu e, portanto, estivemos 10 anos sem nos falarmos- de relações cortadas! Foi um tipo que me expulsou do Cascais Jazz em 1979. Disse 'Fora, isto é a minha casa!', do Desportivo de Cascais, lembro-me perfeitamente. (...) A reconciliação foi quando eu vim com a orquestra do Taller de Músics, de Barcelona, com o Tete Montoliu como solista, ao São Carlos, a abarrotar, em 1989. E quem é que vejo nos camarins depois do espectáculo? O Villas-Boas, com os braços abertos. E disse-me só assim, e aí foi a reconciliação: 'Eh pá, ó Zé Eduardo, você conseguiu, pá!'"

"Ainda ontem estive numa jam- eu cheguei ontem a Lisboa e fui meter-me no Hot, como é óbvio. Quer dizer, é óbvio! Não tenho outro sítio para ir, quando venho a Lisboa venho ao Hot. E era 3ªfeira, sabia que havia jam session, fui lá e estive a tocar. E estive a tocar com malta nova que eu nem sei quem é! E há malta a tocar muito bem, e ainda bem! Miúdos novos, a tocar... Portanto, eu fui lá e estive a tocar... foi engraçado, estive a tocar com o Tó Zé Veloso, que é um dos históricos do Hot. Eu disse-lhe, toquei 2 ou 3 temas e disse:'Eh pá, ó Tó Zé, cada vez que toco consigo eu sinto-me um miúdo, pá! Como no primeiro dia!', 'Eh pá, não, pá!', ele assim, e eu, 'Não, pá, sinto-me, eu agora estive a tocar consigo, senti que tinha 18 anos e estava aqui pela primeira vez!'"


"Quando não tenho tempo para tocar pelo menos meia-hora, fico altamente mal disposto. Fico deprimido, fico com sentimentos de culpa e de remorsos, e não sei quê... E às vezes não posso mesmo (tocar). Às vezes chego ao fim do dia e não toquei, e digo: 'Não tocaste, pá!'... Ah, porque eu tenho um caderno onde escrevo tudo o que toco, há 30 anos. Não é esse caderno, tenho vários, tenho uma colecção de cadernos! (...) É o que eu tenho de estudar. Eu sempre que estudo, gravo-me. Depois ouço e sou o meu próprio professor. Vejo onde é que falho e depois vou praticar aquela coisa onde estou a falhar até achar que está bem. Trabalho assim. Depois ponho no caderno, fiz aquilo, aquilo, aquilo- e faço isto há 30 anos, quer dizer, devo ser um bocado psicótico!"


"Eu, quando era militante, activista estudantil, antes do 25 de Abril, já sabia as músicas do Zeca. Mas sabia as músicas do Zeca como sabia a Internacional, quer dizer, era obrigatório! Portanto, o Zeca diz-me, a mim, nesse aspecto. O Zeca, para mim, ainda é isso, ainda é ter a polícia de choque ou estar nas searas do Alentejo. (...) Eu gravei vários discos de música portuguesa mas estava lá tipo mercenário. Pagavam-me e eu ia para lá e fazia o melhor possível."


"(O contrabaixo) é o mesmo, desde que eu sou estudante. É o mesmo. Só outro dia aconteceu-lhe um acidente, porque um dos meus road managers... a primeira vez, ele disse: 'Eh pá, eu sou músico, como vês, eu trato bem dos instrumentos, posso levar o teu contrabaixo?' E eu nunca deixei ninguém levar o meu contrabaixo. Sempre levo eu. E uns dias antes tinha-lhe dado ordem: 'Passas a levar, acho que sim, mereces.' Pronto! Deu-lhe um encontrão, bateu na esquina daqueles monitores de palco que são em forma de triângulo, fez uma racha... pronto, tirei-lhe outra vez a prerrogativa, continuo a carregar eu o contrabaixo. Foi a única vez. Aliás, foi a grande cacetada que ele levou nos últimos 30 anos, foi essa. Foi em Novembro. Tem o braço solto, e este A Jazzar (nos Cartoons) foi gravado assim, no dia seguinte a ter levado a cacetada. Por isso é que isso soa tão bem!"

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